O EU E O OUTRO
A maioria das pessoas não se importa verdadeiramente com o outro
Elas não respeitam o outro, não sabem reconhecer o valor do outro.
Só reconhecem a importância de si mesmas, do próprio eu.
Para algumas pessoas, o outro é um terreno hostil, incerto e tenebroso.
O eu, ao contrário, é um local aparentemente seguro, certo e estável.
No entanto, isso não passa de mera ilusão.
Para muitos, o outro praticamente não existe.
O outro não é respeitado, o outro não é valorizado, o outro não tem crédito.
O eu sempre se acha mais valoroso do que o outro.
O outro é sempre o estranho, o diferente, o incompreensível.
Como diria a máxima de Sartre: “O inferno são os outros”.
O outro é sempre o culpado de tudo. Nunca eu sou o verdadeiro responsável pelo que acontece.
O outro está sempre errado. Eu, curiosamente, me acho sempre o dono da razão.
Quando o outro vem me questionar, fico bravo e logo passo a julgar o outro.
O outro é sempre tão pequeno em relação a mim, em relação ao eu.
Eu, ao contrário, sou sempre grandioso, necessário e correto.
Acreditamos sempre que o outro é que deve tomar a iniciativa; que o outro é que deve dar o braço a torcer; que o outro é que deve perder para que possamos ganhar.
É sempre o outro que não nos entende, mas nós julgamos saber tudo sobre o outro.
Acreditamos que nunca vamos ficar doentes; é sempre o outro que fica doente; acreditamos que vamos morrer bem velhos, o outro é que morre jovem; acreditamos que não vamos ficar pobres; é sempre o outro que fica pobre; acreditamos que não sofreremos um acidente; os acidentes ocorrem sempre com “o outro”. As desgraças acontecem sempre com os outros, nunca admitimos que pode ocorrer conosco… até elas acontecerem.
Reconheço que a profissão de gari é muito importante, mas o filho do outro é que vai ser gari, o meu vai ser doutor. O outro é que vai ser pobre, eu quero sempre ser rico para que o outro me sirva.
O outro é sempre igual a todos os outros, mas nós vemos sempre algo de especial no eu.
É sempre o outro que me desrespeita, não sou eu que me sinto desrespeitado; é sempre o outro que me ofende, não sou eu que me sinto facilmente ofendido; é sempre o outro que me engana, não sou eu me engano fácil ou minto para mim mesmo.
A vida humana é assim… o culpado é sempre o outro, o outro e o outro… o outro é errado, é perseguidor, é ameaçador. O outro ameaça a tênue estabilidade do que eu creio ser eu, simplesmente porque o outro é diferente e eu, sendo eu, luto contra o diferente de mim mesmo.
Minhas ideias são melhores que as ideias do outro; minha religião é sempre mais verdadeira; meu partido é sempre melhor; meu modo de ser é mais correto que o do outro.
O eu sente-se sempre acima do outro. E quando não se sente por cima, quer ver o outro por baixo, quer derrubar o outro; puxar a cadeira do outro; pisar no outro; prevalecer sobre o outro.
Algumas pessoas vivem numa alienação tão grande e se tornam tão repletas de si mesmas que sequer conseguem deixar um espaço para o outro, ver o outro, enxergar o outro, perceber o outro com mais profundidade.
O outro deve ser ignorado… eu devo ser exaltado e destacado.
No entanto, apesar de se encherem de si mesmas, muitos vivem em função do outro.
O outro precisa dizer que sou bom para eu me sentir bom; o outro precisa gostar de mim para que eu me goste; o outro precisa me dar atenção para eu não me sentir sozinho; o outro precisa muitas vezes dizer quem sou para que eu acredite que sou.
O eu sempre se molda em função do outro, pelas referências do outro, pelo olhar do outro. O eu nada mais é do que um reflexo imperfeito do desejo projetado pelo outro.
O eu despreza o outro, mas no fundo precisa do outro para poder existir, para poder sobreviver e se localizar.
Por outro lado, quando o eu se enfraquece, colapsa e se desagrega, passo a ver o outro como sendo o máximo, e eu como mínimo. O outro passa a ser tudo e eu não sou nada. Quanto mais me sinto mal comigo mesmo, mais busco me padronizar em relação ao outro, mas vejo o outro como minha referência.
Assim, o eu não tem existência autônoma. O eu não é livre. Ele está preso no cárcere da visão do outro sobre si mesmo. O outro é a medida do eu; é o modelo do eu.
Na verdade, o eu é um sugador, é um vampiro que se alimenta dos elogios, das referências e das expectativas do outro sobre nós. Fazemos aquilo que o outro espera que façamos.
Acreditamos ser muito livres e independentes, mas somos prisioneiros do modelo e do ideal do outro.
No momento em que não existir mais a rixa entre eu e o outro; a competição entre eu e o outro; o duelo entre a exaltação do eu e o desprezo do outro; ou a exaltação do outro e o desprezo por si mesmo, tudo vai melhorar em nossa vida. O eu e o outro são interdependentes e intercomunicantes. Não há eu sem o outro e não há o outro sem eu.
O eu e o outro precisam desaparecer, para que a verdade, a essência e o espírito possam despertar.
O eu e o outro são um só… E tudo é divino.
(Hugo Lapa)
Tratamento Espiritual a distância com Captação Anímica
lapapsi@gmail.com
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