REFLEXÕES SOBRE A CARIDADE
Vamos expor alguns dos pontos mais importantes para se compreender no que consiste a verdadeira caridade. Esse guia serve para todos aqueles que desejam enveredar por este caminho, ou que já realizam algum trabalho ou projeto em benefício do seu próximo.
Em primeiro lugar, a caridade deve ser sempre desinteressada, sem se esperar coisa alguma em troca pelo trabalho que se fez. Aqueles que fazem o bem e desejam com isso obter algum tipo de compensação ou gratificação não estão fazendo pelo outro, mas sim para si mesmos; estão fazendo com seu olhar voltado apenas aos benefícios futuros que vão receber. Esse princípio inclui religiosos que usam a caridade para “comprar” quinhões no céu, ou para acumularem um “bom karma”. Caridade deve ser sempre totalmente desinteressada.
Caridade deve ser, sempre que possível, anônima, caso contrário, será apenas uma forma de vaidade, de projeção do próprio ego ou de nossa imagem pessoal. Esse caso exclui obviamente projetos em que seja necessária a divulgação do nome dos envolvidos, ou quando alguém precisa se responsabilizar pelo trabalho empreendido. Mas tirando algumas exceções, é preciso saber que, aqueles que ficam divulgando a caridade podem estar mais preocupados com uma propaganda em cima do seu próprio nome apenas para impressionar os outros, sem estarem tão preocupados com seus semelhantes.
Caridade não deve ser uma atividade que gera prazer, pois se gerar prazer, não é para o outro, mas para nós mesmos. Isso significa que, se você faz algo porque gosta do trabalho, a pessoa pode estar fazendo apenas porque gosta, e não pelo trabalho em si. Não que a pessoa precisa desgostar do que faz, mas, como dissemos, se é uma atividade que gera prazer, é preciso refletir se estamos trabalhando pelo prazer de realizar esse projeto, ou pelo bem estar do outro.
Não se deve fazer caridade apenas porque acreditamos ser “o certo” a se fazer, pois se acreditamos, por exemplo, que toda pessoa boa precisa fazer caridade, estamos fazendo apenas por julgar o certo, e não por uma consciência verdadeira, por um desejo nascido de dentro do nosso coração.
Qualquer sentimento de importância pessoal no ato da caridade já tira qualquer valor da caridade. Aqueles que procuram fazer o bem e se sentem melhores do que aqueles que não o fazem, estão se deixando levar pelas seduções do ego, e essa gratificação para o ego, que gera orgulho e vaidade, já é algo contrário ao espírito de total desprendimento que deve estar contido em todo ato de caridade.
Caridade exige sacrifício. Se uma pessoa não tira algo de si mesma, e dá apenas o que está sobrando, ou o que não precisa mais, isso não pode ser considerado caridade. É como a história de Jesus e da pobre viúva, que lançou como oferta apenas duas moedas. Jesus disse: “Em verdade vos digo que lançou mais do que todos, esta pobre viúva; Porque todos aqueles deitaram para as ofertas de Deus do que lhes sobeja; mas esta, da sua pobreza, deitou todo o sustento que tinha” (Lucas 21:3-4). Ela deu mais porque tirou de tudo o que tinha, enquanto que outros deram apenas o que lhes sobrava. Quanto maior o sacrifício pessoal, maior o valor espiritual da caridade.
Um ponto importante é o seguinte: a caridade deve ser em todos os momentos, e não apenas em momentos específicos. Quem marca hora para fazer caridade deveria saber que a caridade só é autêntica quando está dentro de nós, em todas as nossas ações, pensamentos e sentimentos. Ela não precisa ter hora e lugar para acontecer. Por outro lado, não pode ser considerado caridade as pequenas gentilezas do dia a dia, como abrir a porta para uma mulher, ou ajudar um idoso a carregar as compras. Caridade é algo mais profundo do que ser prestativo em momentos determinados.
Caridade não é ficar criticando tudo aquilo que não concordamos, mas sim fazer aquilo que temos como o melhor. Ao invés de destruir o que julgamos negativo, vamos construir do que julgamos positivo. Ao invés de atacar aquilo que nos parece errado, vamos promover aquilo que nos parece o correto. É melhor plantar as sementes da árvore do bem do que tentar destruir a árvore que, para nós, não dá bons frutos.
Caridade não é fazer o que você julga ser o melhor ao outro. Caridade é investigar ao máximo o que realmente é o essencial ao próximo, e fazer o que é necessário. Muitas vezes temos uma visão pessoal e fixa do que o outro precisa e na maioria das vezes não temos a visão correta das necessidades reais do outro. Por outro lado, muitas vezes acreditamos estar fazendo o certo, mas estamos mais atrapalhando a pessoa do que a ajudando.
Não é caridade ajudar pessoas que gostamos. A caridade verdadeira está em ajudar as pessoas que não gostamos. Ajudar pessoas que gostamos nada mais é do que agir pelo nosso amor ao outro, e que mérito há em se fazer o bem aqueles que nos fazem bem? Há mérito, isso sim, em fazer o bem aqueles que nos fazem mal. Aqui vemos um desprendimento que pode ser considerado a essência de uma caridade verdadeira.
Não acredite que sua ajuda é fundamental ao outro, pois o que podemos fazer pelo outro é sempre muito pouco. Somente a própria pessoa pode fazer algo mais fundamental por si mesma. Aqueles que acreditam que o outro não é capaz de fazer, e por isso precisam de ajuda estão se enganando, e também podem estar caindo num jogo do próprio ego querendo se sentir superior. Por isso que se diz que a melhor ajuda é ajudar a pessoa a se ajudar. Conseguimos fazer a diferença quando tornamos a pessoa independente de nós e de outros. Quanto mais autonomia conseguirmos dar a pessoa, mais próximos estaremos da verdadeira caridade. Ajudamos a pessoa para que o mais rápido ela não mais precise de ajuda. Por esse motivo, não faça caridade vendo o outro como “coitadinho”, pois isso nada mais é do que outro artifício do ego.
Não faça caridade acreditando que você está bem e o outro está mal, e por isso você deve ajuda-lo. Muitas vezes quem ajuda está pior do que quem é ajudado,e está apenas querendo desviar o foco das adversidades de sua vida e preocupando-se mais com os outros do que consigo mesmo. Quem tenta de todas as formas ajudar os outros, e se coloca na posição de “salvador”, muitas vezes pode estar fugindo da resolução dos seus próprios problemas usando uma falsa “caridade” como subterfúgio.
Mas afinal de contas, quem faz caridade? Faz a verdadeira caridade aqueles que não sabem exatamente porque a estão fazendo, mas simplesmente fazem. Como disse Jesus: “Mas, quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita” (Mateus 6, 3). Eles praticam algo que está dentro deles mesmos, que sentem que devem fazer, ou que tem essa certeza no fundo do seu coração. Faz a caridade aquele que ajuda, mas nem sabe ou reconhece que ajudou. Aquele que ajuda apenas por querer ver o outro bem, sem esperar qualquer tipo de recompensa…
Autor: Hugo Lapa
Atendimento com Terapia de Vidas Passadas
lapapsi@gmail.com
Hugo Lapa,
gostei muito do seu texto sobre caridade. Não sei se você concorda, mas eu acho que uma grande caridade que podemos fazer é ter tolerância com o erro dos outros, e não ficar fazendo julgamento das ações deles. E também buscar não interferir quando vemos os erros acontecendo, esperar a pessoal amadurecer e ela mesma reconhecer o erro. è muito difícil não julgar, o julgamento é uma forte expressão do ego.
Muito bom texto, independente de qualquer condição social, casta (ateus, agnosticos…). Valeu!!!!!